AICEP

Espaço LusofoniaJon Amil (AGAL): “A lusofonia é muito mais que Portugal e o Brasil”

Jon Amil (AGAL): “A lusofonia é muito mais que Portugal e o Brasil”

Jon Amil (Vigo, 1988) é o presidente de AGAL, Associação Galega da Língua, entidade que é reconhecida como observadora consultiva na CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).

Que significa para a AGAL entrar na CPLP?

Significa entrar para o lugar em que temos de estar. Na Associação Galega da Língua levamos mais de 40 anos a promover a reintegração da nossa língua no espaço que lhe corresponde. Chama-lhe lusofonia, chama-lhe galeguia, chama-lhe espaço galego-luso-brasileiro. O caso é que existe um foro internacional bem constituído que junta todas as falantes da nossa língua a nível mundial, e nós tínhamos de estar aí.

E que significa para o galego e para a Galiza?

Somos a quarta entidade galega que entra a fazer parte da CPLP, depois do Conselho da Cultura Galega (CCG), a Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP) e a Docentes de Português na Galiza (DPG). Quantas mais vozes galegas existirem no seio da CPLP, mais visibilidade terá o nosso país e mais oportunidades teremos de estabelecer conexões e colaborações. A Galiza só tem a ganhar a todos os níveis: cultural, social, económico…

O status de Observador Consultivo permite fazer parte de reuniões temáticas e ter acesso prioritário a acordos com o organismo internacional. Já pensou a AGAL nos primeiros passos a dar?

Temos pensadas coisinhas para o próximo ano, mas teremos de esperar ainda uns meses para poder ver. Para além disso, a AGAL vai começar a estabelecer parcerias e acordos com outras associações pertencentes à CPLP. O reintegracionismo tem-se virado muito para Portugal e, em menos medida, para o Brasil, mas a lusofonia é muito mais do que isso.

O galego é uma porta aberta que nos permite aceder a uma multitude de culturas, de países, de pessoas e mesmo de línguas muito diversas. Queremos mostrar essa diversidade na Galiza e queremos dar a Galiza a conhecer nesses espaços.

A Galiza tem uma ferramenta conhecida como Lei Paz-Andrade. Como valoriza a AGAL o seu desenvolvimento?

A Lei Paz-Andrade, que acabou de fazer dez anos, foi um ponto de inflexão muito importante. Foi um acordo unânime entre todas as forças políticas galegas, foi um consenso enorme poucas vezes visto. Nesse sentido, temos muito orgulho.

Porém, o seu desenvolvimento nesta década foi mui tímido, pouco ambicioso e insuficiente. O número de estudantes de português, do padrão português da nossa língua galega, é por volta de 5.000 (0,17% da população galega). Só temos de comparar esta cifra com as 15.000 pessoas que o estudam na Estremadura espanhola (1,5% da população estremenha) para ver que algo estamos a fazer mal. E em que ficou a receção dos canais de TV e rádio portuguesas na Galiza? Quando vai chegar o Observatório da Lusofonia? Temos ainda tanto por fazer.

Que propõe o reintegracionismo para reverter a atual situação da língua na Galiza?

Ouvimos constantemente as limitações do galego e poucas vezes as imensas oportunidades que nos oferece. As variedades brasileira e portuguesa da nossa língua complementam a nossa variedade galega, chegam onde nós nom damos chegado ainda.

Por colocá-lo em perspetiva, vamos fazer um paralelismo. Se uma pessoa castelhana falante de Espanha não encontra um conteúdo na sua variedade linguística, o normal é acudir à variedade da América Hispana. Ninguém em Espanha é alheia às dobragens hispano-americanas ou à música daquelas zonas. Pois bem, o equivalente para nós é o português do Brasil, o galego tropical. Se recorrêssemos a ele com naturalidade, veríamos que o galego está presente em lugares em que nunca imaginaríamos. Isso dá uma imensa autoestima. Vai ver que, como dizia Castelao, falamos uma língua extensa e útil.

E estas oportunidades existem em ambos os sentidos. As pessoas que fazem vídeos em galego nas redes, quando se demarcam dentro do âmbito espanhol, não deixam de receber comentários de que “Porque falas em galego? Em castelhano te entenderíamos todos!”. Porém, só é preciso sair dessa borbulha e lançar-se ao público lusófono, para ter centos de comentários do tipo “Que idioma lindo! Percebi tudo!” ou mesmo “É mais fácil de entender para mim, brasileira, do que o português de Portugal!”. Que tipo de comentários são os que vão animar as pessoas a fazerem coisas em galego? Qual é o público natural a que podemos chegar na nossa língua?

Porque grande parte das pessoas galegas, mesmo as galego-falantes, continuam a ver a comunidade lusófona como algo “alheio”? Que se pode fazer para mudar essa visão?

A explicação é bem simples: falta de exposição. Se estivéssemos mais expostas ao resto de variedades da nossa língua e às suas culturas, veríamos como claramente é o mundo ao qual pertencemos. Só há que olhar para as míticas listas de “palavras que só se usam na Galiza”. Quais são as nossas palavras mais “exclusivas”? É só ler um folheto de segurança qualquer num avião para ler, na versão em português, que é proibido “levar crianças no colo”. Ou assistir a cinema brasileiro para ver o logo de produtoras como “Lusco Fusco Filmes”. Se mesmo a Galinha Pintadinha, desenhos animados infantis feitos no Brasil, tem uma versão do Alecrim Dourado! O Alecrim Dourado que cantava Ana Kiro no Luar!

A língua serve para comunicar e o que faz falta é isso, comunicação. Quanto mais contacto tivermos com o resto de variedades da nossa língua no mundo, mais nos encontraremos a nós mesmas nelas.

Nos diário

NEWSLETTER

Subscreva a nossa Newsletter e fique a par das últimas novidades das comunicações no universo da lusofonia.